O NOME DA ROSA
O
enredo de O Nome da Rosa gira em torno das investigações de uma série de
crimes misteriosos, cometidos dentro de uma abadia medieval. Com ares de
Sherlock Holmes, o investigador, o frade franciscano Guilherme
de Baskerville, assessorado pelo noviço Adso de Melk, vai a fundo
em suas investigações, apesar da resistência de alguns dos religiosos do local,
até que desvenda que as causas do crime estavam ligadas a manutenção de uma
biblioteca que mantém em segredo obras apócrifas, i.e. obras que não seriam
aceitas em consenso pela igreja cristã da Idade Média, como é a obra risona
criada por Eco e atribuída romantescamente à Aristóteles. A aventura de
Guilherme de Baskerville
é desta forma uma aventura quase quixotesca.
No
romance, Umberto Eco relembra a
problemática suscitada pelo nominalismo
entre o que é essencial, que parece ser o nome da rosa como nome, em si um conceito, portanto um
universal, dessa forma,
eterno, imutável, imortal e de sua contraposição a rosa particular, individual no
mundo, flor de existência única na
realidade, que por acontecer, também é passageira, mortal e transitória.
O
próprio nome do livro suscita uma questão que relembra a questão dos universais
e dos particulares, que se refere a saber se o nome da rosa é universal
ou particular. O quadro da questão pode ser representado de forma tradicional
pelo quadrilátero de proposições lógicas. A questão se refere ao juízo que
fazemos do nome da rosa: se ele é universal, por exemplo: O nome da rosa é
imortal; particular: O nome da rosa é passageiro (mortal) e ainda: Nenhum nome
da rosa é imortal ou: Algum nome de rosa é passageiro. Os vértices do
quadrilátero seriam formados por esses quatro juízos. Seria algum desses juízos
verdadeiro ou falso? Se sim ou não, nisso há alguma contradição? Haveria outras
possibilidades, outras incertezas?
Eco
sugere no O Nome da Rosa, um ambiente no qual as contradições,
oposições, querelas e inquisições, no início do século XIV, justificam ações
humanas, as virtudes e os crimes dos personagens, monges copistas de uma abadia
cuja maior riqueza é o conhecimento de sua biblioteca. Para os personagens, a
discussão do essencial e do particular, do espiritual e da realidade material,
do poder secular e da insurreição, dos conceitos e das palavras entranham pelo
mundo uma teia de inter-relações das mais conflituosas. A representação, a
palavra e o texto escrito passam a ter uma importância vital na organização da
abadia beneditina, gestando o microcosmo
do narrador.
No O
Nome da Rosa, conhecido e desconhecido tecem caminhos secretos pela abadia
de pedra e representações, definindo uma história de investigação onde as
deduções lógico-gramaticais, são nas mãos do autor similares àquelas dos
romances policiais modernos. Por outro lado, a narrativa se afasta do simples
romance policial não somente pelo fato de ser escrito ao final do século XX,
mas porque expõe e aproxima-se de um mundo de incertezas. A arquitetura da
abadia faz lembrar os (des)caminhos do labirinto da internet e a difícil
situação de decidir politicamente em uma Itália dividida entre o norte rico e
articulado e o sul pobre e violento. Esse Sul (Africae), mais
representado que real, dito virtual
em sua realidade, é no espaço sócio-econômico do final do século XX mais que um
elemento isolado.
Além
disso, "O Nome da Rosa" é uma viagem imaginária à Idade Média europeia. A
oportunidade de reflexão aberta das questões filosóficas, dos conceitos de
certo e errado, de bem e mal, da moral cristã, do que está por trás dos
conceitos e crenças atuais, mesmo que por contraste com o conjunto de
questionamentos que ecoam dos séculos atrás, é uma herança a ser compartilhadas
pelos leitores dessa obra aberta.
Ainda
é importante mencionar que a biblioteca que serve como plano de fundo e
personagem principal ao mesmo tempo é inspirada no conto A Biblioteca de
Babel do argentino Jorge Luis Borges onde é apresentada uma
biblioteca universal e infinita que abrange todos os livros do mundo. Para
homenagear o escritor há o personagem Jorge de Burgos, que além da semelhança
no nome é cego assim como Borges foi ficando ao longo da vida. Outra homenagem
presente no nome é William de Baskerville que seria como um Sherlock Holmes na
história, este tem como uma das suas principais aventuras O Cão dos
Baskervilles
Adson
(ou Adzo) de Melk é um
dos personagens principais do romance de Umberto Eco intitulado
"O Nome da Rosa". Filho do Barão de Melk, o jovem, juntamente com o
seu tutor e mestre, Guilherme de Baskerville, tenta desvendar crimes
cometidos em um monastério em algum lugar dos alpes italianos durante a Idade Média. Umberto Eco, na introdução
da obra, diz que Adso é o responsável pela edição dos textos dando conta dos
acontecimentos no monastério:
«No dia 16 de Agosto de 1968 foi-me parar às mãos um livro que se deve à pena
de um certo abade de Vallet, Le Manuscript de Dom Adson de Melk,
traduzido em francês segundo a edição de Dom J. Mabillo (Aux Presses de
l'Abbaye de la Source, Paris, 1984)» [1]